segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Crianças e adolescentes têm uma escola para a vida


Pormenor do centro que é um dos modelos em termos de acolhimento e educação de crianças e jovens órfãos e abandonados

J.A. - Domingos Mucuta| Lubango - 23 de Setembro, 2010
Fotografia: Arimateia Baptista| Lubango

Há 13 anos nascia no Lubango uma "aldeia SOS", com apoio do Fundo Herman Gmerner, da Alemanha, em parceria com o Ministério da Assistência e Reinserção Social.
A aldeia tem um lar de acolhimento de crianças e jovens órfãos e abandonados que é considerado um "paraíso na terra". A paz reinante na instituição estimula a uma reflexão profunda sobre a preservação do amor, respeito, perdão, compaixão e solidariedade, valores necessários à boa convivência em sociedade.
Esses valores servem de inspiração aos funcionários da Aldeia SOS, no seu trabalho de assistência, e também ajudam a cimentar a consciência de irmandade entre as centenas de crianças e adolescentes inseridas na aldeia.
A instituição, situada a cinco quilómetros do centro da cidade do Lubango, passa despercebida aos olhos dos menos atentos. Na Aldeia SOS, crianças, adolescentes e jovens, órfãos ou abandonados, encontram um ombro amigo, uma família e uma escola para a vida.
"Aqui não nos falta nada", garantiu a jovem Alice Musseth, 19 anos, integrada na aldeia desde tenra idade. O trabalho de assistência desenvolvido pela Aldeia SOS orgulha os responsáveis e beneficiários, porque os "frutos das árvores" que começaram a ser plantadas no dia 31 Março de 1998, já estão a ser colhidos.

Formação integral

Muitos dos jovens que cresceram no orfanato hoje frequentam o ensino médio ou superior no país e no estrangeiro, graças a bolsas de estudos que lhes foram atribuídas. No jardim infantil a escola começa aos três anos. Depois de atingirem a idade escolar, as crianças são transferidas para a escola Hermaner Gmeneer, onde estudam da iniciação até à nona classe.
A jovem Alice Musseth perdeu os pais muito cedo, altura em que foi inserida no centro de acolhimento. A estudante da 12ª classe no Instituto Médio de Economia do Lubango considera a Aldeia SOS como um lar familiar que contribuiu para a materialização das suas aspirações.
"Quero terminar o ensino médio para ingressar na Faculdade de Economia e tirar o curso de contabilidade e gestão", disse, sublinhando que "aqui tenho todo o apoio para ser uma contabilista competente".
A direcção da Aldeia SOS definiu critérios que favorecem os mais empenhados. Os estudantes com notas superiores ou iguais a 14 valores são seleccionados para frequentarem as aulas nos colégios privados do Lubango e fora do país, com bolsas custeadas pela instituição.
O director da Aldeia SOS no Lubango, Faustino Siquila, sublinhou que desde a sua fundação, a instituição já assistiu jovens que hoje estão em universidades no país e no estrangeiro. "Temos estudantes na Namíbia e Suazilândia e queremos estabelecer protocolos que nos permitam o envio de mais bolseiros para a África do Sul", precisou.
As crianças e jovens órfãos e abandonados beneficiam de formação integral. O pastor Faustino Siquila disse que recebem o apoio necessário para vida: "as crianças com insucesso escolar mas com habilitações para singrar na sociedade, podem envergar para os cursos técnicos profissionais".
Os habitantes da Aldeia SOS recebem gratuitamente todo o material didáctico e "se forem talentosos podem ingressar nao ensino superior, porque temos capacidade para apoiar a formação de todos", assegurou.
Faustino Siquila acrescentou que a Aldeia SOS ministra também cursos de formação profissional, nas especialidades de corte e costura, culinária e serralharia: "quando a preferência das crianças recai para outro curso, a direcção paga para que o façam num centro de formação fora da aldeia".

Fortalecimento familiar

Adelaide Dembo é uma das mães tutelares de crianças e jovens numa das 13 casas familiares da Aldeia SOS. Assistente de infância desde o arranque do projecto, Adelaide Dembo desempenha um papel importante na vida de muitas crianças e jovens, alguns deles já estudantes universitários no país e no estrangeiro.
Ela tem orgulho do trabalho que faz em prol da inserção social dos jovens, pois tem afecto por todos os 15 "filhos" sob sua tutela: "estou muito feliz por ser educadora de infância. Tenho os meus filhos biológicos, mas a minha felicidade está em ajudar estas crianças e jovens que perderam os seus parentes", explicou.
A instituição tem 13 casas familiares, resultado do Programa de Fortalecimento Familiar, que apoia também 111 famílias em extrema pobreza nos bairros periféricos da cidade do Lubango.
O programa tem como objectivo dar um lar àqueles que dele precisam. O pastor Faustino Siquila esclareceu que cada casa representa um lar para 175 crianças e jovens abandonados e órfãos que beneficiam dos projectos da Aldeia SOS.
"Temos dois pilares, consubstanciados no apoio aos desfavorecidos internos e externos. O Programa de Fortalecimento Familiar garante assistência a muitas crianças que se encontram nas comunidades sob cuidados de um avô ou irmão, visando minimizar as carências", referiu.
Além de receberem apoio, os habitantes da aldeia aprendem também a "pescar", já que estão envolvidos em actividades produtivas. O director da instituição esclareceu que o anzol utilizado para a auto-suficiência alimentar é a agricultura.
As famílias receberam parcelas de terras para desenvolver a actividade agrícola em pequena escala na fazenda do projecto, que permite a horticultura, com vista a melhorar a dieta alimentar.
"Temos a produção de couves, cenouras, cebolas, tomates e frutas. Este produtos são resultados de uma estratégia que visa contribuir para a auto-suficiência alimentar e para ensinarmos a pescar".

Água para todos

A água potável em breve começa a jorrar, no âmbito do programa "Água para Todos". Os trabalhos de montagem do sistema, iniciados este mês, estão a cargo dos técnicos da Direcção Provincial da Energia e Águas. As crianças e jovens órfãos e abandonados da Aldeia SOS estão ansiosos com a conclusão da empreitada. O sistema de captação subterrânea já está concluído.
Faustino Siquila contou que há 13 anos as crianças e outros membros da Aldeia SOS consomem água do riacho, que actualmente estão poluídas.
"Ao longo destes anos aproveitávamos a água do riacho da montanha. Na época chuvosa o caudal é maior, mas no cacimbo diminui e enfrentamos muitas dificuldades. Além disso, já não tem a qualidade de antes", referiu.
O director da Aldeia SOS manifestou satisfação pela instalação do sistema de captação que vai "acabar com a utilização e o consumo de água retirada do riacho junto ao monte".
Faustino Siquila disse à nossa reportagem que deve "um vivo e caloroso agradecimento ao Governo Provincial da Huíla, sobretudo à Direcção das Águas, por disponibilizar as máquinas para abertura do furo para a nossa comunidade". E espera que outras instituições "abram as mãos" e apoiem as acções de beneficência do internato, tendo em vista a reintegração social dos jovens e crianças em situação de risco.
"Da mesma maneira que temos hoje as máquinas a trabalhar para a água jorrar nas casas da nossa aldeia, aguardamos que outras entidades respondam às nossas solicitações, apoiando as crianças e jovens desfavorecidos", exortou.
A Aldeia SOS já foi uma unidade orçamental do Estado. Faustino Siquila explicou que há mais de cinco anos que a instituição deixou de receber verbas do OGE, o que limita a sua intervenção. Mas está esperançado que a Aldeia volte a receber verbas do Orçamento Geral do Estado, porque acredita na vontade das autoridades em apoiar as acções de beneficência.
"Há muitos anos que não recebemos apoio institucional. Temos dirigido pedidos às autoridades para a Aldeia SOS voltar a ser uma unidade orçamental. Mantemos a esperança de termos verbas públicas para impulsionar os projectos em carteira", disse.
O director Faustino Siquila defende a elevação da Aldeia SOS à categoria de instituição de utilidade pública. Afirmou que a instituição conquistou o seu espaço no trabalho de reintegração social dos desfavorecidos na Região Sul: "estamos a crescer com um trabalho altamente credível. Somos parceiros do Executivo, por isso gostaríamos de ter a mão das autoridades para continuarmos com as actividades em prol dos mais carenciados", apelou.
A Aldeia SOS é uma instituição de âmbito nacional. Está presente nas províncias de Benguela e Lubango, com previsão de extensão para as províncias do Huambo e Cunene.
Sobre o abandono de crianças, o pastor disse que quando "uma sociedade é apontada como doente significa que os problemas estão nas famílias".
Faustino Siquila defende uma maior responsabilidade dos pais e encarregados educação e empenho de todos dos actores sociais, para acabar com o abandono de menores na sociedade angolana.

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