quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Huíla - interior

Via degradada trava progresso
J.A. -Estanislau Costa | Lubango - 04 de Setembro, 2010

Camponeses reclamam estradas em melhores condições para poderem escoar a produção agrícola excedentária

A estrada que liga Cacula a Quilengues é uma picada espinhosa de se percorrer durante o tempo seco, devido às profundas lombas, às raízes de árvores e à poeira que se levanta provocada pela passagem dos carros. Mas o maior problema é durante a estação das chuvas, quando ela se transforma num imenso lamaçal, tornando-se intransitável.
O comboio de viaturas é ofuscado pela poeira, que também cobre as árvores do matagal ao longo da estrada Cacula-Quilengues, com uma extensão de 54 quilómetros. Este cenário afrouxa ao máximo a marcha dos veículos pesados e ligeiros, facto que torna a viagem morosa e cansativa.
O cansaço é ainda causado pelos buracos e raízes de enormes árvores que atravessam as picadas abertas para o trânsito normal. As viaturas “dançam” com a melodia do roncar do motor e a da canção “Mboia”, de Walter Ananaz e confrades.
Há dois anos, uma empresa deu início à execução das obras de reconstrução da estrada Cacula-Quilengues. Os trabalhos não prosseguiram por razões desconhecidas. As chuvas desarticularam todo o trabalho preliminar realizado e provocaram a interrupção da circulação, no ano passado.
Quando chove, o lamaçal invade a área terraplanada, o que faz com que os veículos de grande porte sejam vencidos pela inércia. Os camionistas passam dias a fio a aguardar que a lama seja vencida pela potência do sol abrasador. O barro endurece e a marcha retoma. Os camionistas só respiram aliviados quando atingem o troço Cacula-Lubango, em muito melhores condições de circulação.
A chegada da época chuvosa já está a preocupar os automobilistas e munícipes de Quilengues. “Estamos a recear que a circulação de viaturas volte a estar interrompida, caso as enxurradas façam estragos semelhantes aos do ano passado”, disse o camionista Marcos Ngolo, 48 anos.
O camionista conhece bem aquela estrada. Contou que lá é quase impossível circular quando há muita chuva. “Os camiões não conseguem transpor a elevação acentuada de algumas áreas, por serem escorregadias. Aguardamos até a humidade desaparecer para circularmos”, disse.
Ao volante de um camião de marca Scania, Marcos Pedro transporta 40 toneladas de milho para Benguela. O jovem pede às autoridades para zelarem pela recuperação rápida do troço Cacula-Quilengues, o único até agora por reparar na via que liga as duas províncias do sul do país.
Embora Quilengues seja a referência para os viajantes do Lubango e Benguela, as condições actuais do troço embaraçam o movimento de turistas nacionais e estrangeiros. A jovem Joana Gonçalves explicou que são poucas as pessoas que vêem desfrutar das belezas do município. “Já viajamos em boas estradas da sede da província da Huíla para quase todos os municípios. Só falta reconstruir as estradas que atingem Quilengues, Chicomba e Chipindo, para viajarmos com conforto, segurança e sem muita demora”, disse a jovem, que se dedica ao comércio de roupas.
Joana Gonçalves está optimista e acredita que a reconstrução da estrada vai proporcionar mais vida a Quilengues e despertar melhores oportunidades de negócio e de exploração dos recursos minerais que abundam na zona.
Na província da Huíla estão já reconstruídas as vias Lubango-Namibe, Lubango-
Quipungo-Matala-Jamba, Lubango-Chibia-Chibemba, Quilómetro 42-Cacula­Caluquembe-Caconda, e outros troços.

Obras mudam Quilengues

A vila do município de Quilengues apresenta uma imagem agradável e acolhedora, fruto da execução das obras de reconstrução dos passeios das principais avenidas, levadas a cabo com recurso ao Programa de Intervenção Municipal (PIM).
O administrador do município, Salomão Agostinho, explicou ao Jornal de Angola que já foram concluídas várias obras de impacto social e económico, que deram outra dinâmica à vida de Quilengues e melhoraram as condições de vida da população.
Algumas crianças fora do sistema de ensino e aprendizagem vão, no próximo ano lectivo, frequentar aulas na nova escola de 12 salas. A escola, erguida de raiz, dá um certo alívio às autoridades e aos pais, pois contribui para a redução do número de petizes fora do sistema de ensino.
Salomão Agostinho afirmou que o município possui mais de 27 mil crianças sem aprendizagem. Para inverter o actual quadro, “estamos empenhados em aumentar o número de salas e, nalguns casos, a utilizar material local e a envolver os pais no processo”.
Quilengues possui 116 escolas do ensino primário e secundário do II ciclo, com 750 professores a assegurarem o processo de ensino. Está garantido o fornecimento regular de material didáctico, facto que tranquiliza os professores, alunos e encarregados de educação.
Mas o administrador insiste em pedir aos pais e outros tutores “para não deixarem a responsabilidade da instrução das crianças unicamente aos professores”. A instrução para o futuro dos “nossos filhos é uma tarefa de toda a sociedade, principalmente dos pais”.
As infra-estruturas da administração municipal foram recuperadas com o propósito de dar melhor dignidade às áreas de funcionamento político-administrativo. O governo empregou 13 milhões e 500 mil kwanzas nas obras de restauro, efectuadas por uma construtora local.
A sede da administração, apetrechada com mobiliário diverso, possui um hall, uma secretaria, sete gabinetes, sala para reuniões, parque de estacionamento, anexos e um espaço pronto para albergar os diferentes serviços oficiais.
O município conta, igualmente, com um clube recreativo e cultural, projectado para 150 pessoas, e um campo polivalente. Estas estruturas foram criadas com o objectivo de albergar as iniciativas culturais, desportivas e de lazer dos jovens e permitir a descoberta de novos talentos.

Mais água e saúde

Novos projectos estão a ser executados para aumentar o abastecimento de água potável, abarcando um universo de 10 mil para 30 mil consumidores. Ao abrigo do “Programa Água para Todos”, novas acções estão em curso para a reparação e ampliação do sistema de captação e abastecimento de água.
A sede de Quilengues já possui uma rede de captação e distribuição canalizada de água para mais de nove mil famílias. Com a solução do abastecimento de água em vários pontos da vila, a preocupação das autoridades, agora, é levar água tratada e canalizada às comunas de Bimbi, Empulo e às povoações.
“Este município”, explicou o administrador, “está situado numa zona muito seca e com pouca água à superfície. Por isso, o desempenho das autoridades para trazer a água mais próximo da população e melhorar o seu abastecimento, visa a prevenção das doenças causadas pelo consumo de água de qualidade duvidosa”.
Em algumas comunas e povoações, foram instalados mais de 40 furos de captação e montados 37 sistemas de distribuição. O administrador considera haver ainda muito trabalho a fazer, tendo-se em conta o número de beneficiários a atingir.
O sector da saúde também não deixa de ter os seus problemas. O objectivo das autoridades é estendê-lo a toda a população. O centro municipal de saúde, construído no âmbito do Programa de Reconstrução Nacional, presta assistência médica e medicamentosa a mais de cinco mil pessoas mensalmente, contando com um médico e tendo capacidade para internar 60 pacientes. Trata de doenças como a malária, diarreias agudas, respiratórias, bilharziose, entre outras. A abertura da unidade evita agora a evacuação de muitos pacientes para o hospital central do Lubango.
No total, o sector da saúde em Quilengues conta com 16 postos médicos e 870 funcionários, entre enfermeiros, técnicos de laboratório e administrativos. Para a redução da malária, tida como a doença que mais afecta os munícipes, são regularmente realizadas campanhas de sensibilização e distribuição de mosquiteiros.
O centro de formação profissional Rodolph & Anny erguido na localidade de Camukua, está a formar jovens nas áreas de mecânica, carpintaria, agronomia e construção civil. Durante o processo de formação, os beneficiários contam com uma biblioteca e uma sala de informática.
Tutelado pela Igreja Evangélica Sinodal de Angola e apoiado pelo INEFOP e MAPESS, a escola está a formar jovens provenientes do Namibe, Benguela, Luanda e Huíla. O director do centro, Hervé Goarant, explicou que cada curso, ministrado nas componentes teórica e prática, dura dez meses.
“Aprofundamos as aulas práticas para permitir que os formandos terminem a formação com muitos conhecimentos práticos, factor fundamental para a facilidade e inserção rápida no mercado de emprego”, disse.
O município de Quilengues situa-se 140 quilómetros a norte da cidade do Lubango. Possui uma população estimada em 134.050 habitantes que se dedica, principalmente, à agricultura e criação de gado.

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